ULTIMO DIA DE UM CONDENADO - VICTOR HUGO 1829

    Sentenciado à morte, ele teve como sua única companhia, seus pensamentos. Estava "congelado pela sua presença (do pensamento) horripilante, sempre esmagado sob o seu peso avassalador". Ou seja, o pior da prisão parecia ser a impossibilidade de distrair de si mesmo. 

    O autor também sentia o tempo passando em anos (eternidade) quando na verdade havia passado algumas semanas depois de preso. " anos atrás , como parecia , e não apenas semanas como realmente era , eu era um homem como qualquer outro"(pag.4). Passou deveras que seu intelecto jovem e fresco de antes, migrou para o lugar de um mundo de fantasia. Como se nunca tivesse existido.

    Ele passa a ser "uma", não "a" pessoa - sem nome, sem profissão, sem idade, sem identificações, podendo portanto, ser qualquer um de nós - que "ficou preso em mapear sua vida sem ordem e sem fim, tecendo mil padrões fantasticos o tecido grosseiro e esbelto de sua existencia" (pag 4, modificado.). Mas sua aparência fisica é de um rosto de um condenado ou de um louco, isto é. A aparencia da prisão quando vista de perto (pg 14).

A ideia de que a mente só é livre quando o corpo fisico, civil e social o é se confirma em: "meus pensamentos eram livres, por isso eu também era livre (...) Mas agora sou um prisioneiro" (pág 4). Pensar pode nos levar a convicção de existir, mas a convicção de um prisioneiro não é essa: "uma convicção profundamente enraizada , e que é que estou sob pena de morte!". É a convicção do não estar, do não ser, do não poder. 

Único ponto de luz, contato com o externo, que ele encontrou não o alivia de sua condição:" na figura escura do sentinela cuja baioneta brilha pela brecha do meu calabouço , parece que uma voz sonora murmura em meus ouvidos" Sentenciado à morte!"pag 5

Posteriormente, nessa condição inumana em que nada mais podia ser ouvido senão o tilintar das correntes, um frio terrível que parecia congelar sua propria medula, a única coisa que lhe trouxe alegria foi um idoso (pg 34-35). Condição essa que lhe causou uma doença mental que não se cura como uma febre, pois não existe cura para sentença judicial de morte (pag 41), em que lhe imputa a sensação de que se esta abaixo da lamina da guilhotina que demorasse seis semanas para cair (pg 42).

Ele se distrai imaginando fuga, como deveria ser, para que pelo menos sua mente pudesse fugir dali, presente na página 43. Descreve a sensação de quem vai preso na página 51: "Eu me senti estupefato , como um homem que caiu em transe , que não consegue mexer nem gritar , embora saiba que o estão enterrando vivo".

Declara ter tido infância feliz , gloriosa juventude , cujo fim tornou se manchada com sangue fatal que se abre com um crime e se fecha com um castigo vergonhoso. Expõe um reconhecimento de que cada instante da vida nada mais é do que gloria, grandeza, deleite e folia. E finaliza sendo sentenciado a morte.


Editora Coleción Duetos; 2020. Edição Kindle. Tradução: Sheila B. Koerich. Título original: Le Dernier Jour d'un Condamné



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